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Matters of Metaphysics, de D. H. Mellor
Absurdo, humor e filosofia

 

 


D. H. Mellor
Universidade de Cambridge

Disse o bispo Berkeley em 1710, na introdução a Princípios do Conhecimento Humano:

Em geral, inclino-me a pensar que a maior parte, senão a totalidade, das dificuldades a que até agora os filósofos têm achado graça, e que bloquearam o acesso ao conhecimento, se devem inteiramente a nós mesmos -- primeiro levantamos a poeira e depois queixamo-nos que não conseguimos ver (Parágrafo 3). Estes comentários de Berkeley parecem-me hoje em dia tão verdadeiros como o eram em 1710. Na verdade, a situação é em alguns aspectos pior hoje do que era então. Para começar, é demasiado raro que os filósofos hoje achem graça às dificuldades que bloqueiam o acesso ao conhecimento. E deviam achar graça, porque a filosofia tem de lidar, entre outras coisas, com os limites do que faz sentido: isto é, com a fronteira entre o que tem e o que não tem sentido, que é o próprio âmago do humor. Tomemos este exemplo de Alice no Outro Lado do Espelho, de Lewis Carroll: -- Por quem passaste na estrada? -- continuou o Rei, estendendo a sua mão para o Mensageiro para lhe dar mais algum feno.
-- Por ninguém -- disse o Mensageiro.
-- Exactamente -- disse o Rei. -- Esta rapariga também o viu. Portanto, é claro que Ninguém anda mais devagar do que tu.
-- Faço o meu melhor -- disse o Mensageiro num tom mal-humorado. -- Tenho a certeza de que ninguém anda muito mais depressa do que eu!
-- Ele não o pode fazer -- disse o Rei --, senão teria chegado cá primeiro. (Capítulo VII)
Só um filósofo vê por que razão isto é engraçado, só um filósofo vê por que razão não faz sentido falar de Ninguém como se ele e ela (Ninguém é ao mesmo tempo do sexo masculino e feminino...) fosse um ser de um tipo qualquer. A razão, é claro, é que apesar de a palavra «Ninguém» parecer o nome de um ser, não é de facto de modo algum um nome: é um modo de dizer que não havia qualquer ser que andasse mais devagar ou mais depressa do que o Mensageiro. Ora bem, isto é um exemplo bastante trivial de análise filosófica, que qualquer pessoa pode fazer; mas, como veremos, há por aí coisas sem sentido muito mais sérias (e muito mais enganadoras) do que as de Lewis Carroll, que tornam necessária uma análise muito maior para desmascarar e explicar.

Para denunciar o que não tem sentido, contudo, temos primeiro de o descobrir; temos de ter um sentido especial para o que não tem sentido. [...] Para isso, contudo, precisamos de achar graça às piadas como a do Ninguém, e de distinguir a atitude de as levar a sério da atitude de fingir que são importantes. Mas nem todos os filósofos acham graça. Receio que alguns não tenham o sentido de humor sério, nem um sentido especial para o que não tem sentido, de que a boa filosofia precisa. E isso é um defeito muito sério. Pois sem um sentido especial para o que não tem sentido, os filósofos correm um risco muito real de dizerem eles próprios coisas sem sentido, e (ao contrário de Lewis Carroll) de se persuadirem a eles mesmos e aos outros de que se trata de um sem sentido importante.

Nada disto teria muita importância se a filosofia fosse lida e avaliada apenas por outros filósofos, como acontece com a matemática e os matemáticos que, em termos gerais, conseguem perceber quando os seus colegas estão a dizer coisas sem sentido. Mas a filosofia não é lida e avaliada apenas por outros filósofos [...] A filosofia, como a matemática, é lida por pessoas estranhas a ela, que não querem avaliá-la, mas antes confiar nela e usá-la, tal como os físicos usam a matemática. Mas não há muitas pessoas estranhas à filosofia que a queiram para fazer física; na sua maior parte, querem que a filosofia forneça uma espécie de substituto secular para a religião. Por outras palavras, querem que os seus filósofos sejam gurus. E a última coisa que os discípulos querem dos gurus é que tenham sentido de humor; o sentido de humor é contrário ao ar de autoridade que faz os gurus atrair discípulos. Assim, quando os gurus filosóficos levantam poeira ao dizerem coisas sem sentido que parecem importantes, os seus discípulos, longe de se queixarem de que não podem ver, ficam ainda mais impressionados pela obscuridade profunda da visão oferecida. Em filosofia, portanto, tal como na religião e na medicina, um público crédulo dará muitas vezes fama e fortuna aos adoradores de mistérios.

D. H. Mellor
Tradução de Desidério Murcho
Texto retirado da obra Matters of Metaphysics (Cambridge University Press, 1991), pp. 1-2.


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Crítica Central de filosofia e cultura
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História Concisa da Filosofia Ocidental, de Anthony Kenny
História Concisa da Filosofia Ocidental, de Anthony Kenny
Tradução de Desidério Murcho, Fernando Martinho, Maria José Figueiredo, Pedro Santos e Rui Cabral
Revisão Científica de Desidério Murcho
Temas & Debates, Outubro 1999, 460 pp.
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Anova história da filosofia de Anthony Kenny é um feito excepcional. O livro é acessível mas sofisticado, conciso mas abrangente. As suas principais fraquezas são as decisões editoriais do autor, por vezes surpreendentes e dramáticas, e a sua intermitente aplicação idiossincrática da filosofia analítica do século XX. Além disso, Kenny não fornece referências das citações que usa. É uma infelicidade que o autor exemplifique um comportamento que todos os professores de filosofia procuram desencorajar. Estas imperfeições, a maior parte das quais o próprio autor reconhece no seu prefácio, em pouco enfraquecem o prodigioso triunfo da história de Kenny. O livro consiste em 22 capítulos que ocupam 436 páginas, seguidas de um posfácio, de sugestões de leitura complementar e de um abrangente índice analítico. Os capítulos, que se estendem desde «Na Infância da Filosofia» até «A Filosofia de Wittgenstein», incluem discussões pormenorizadas de quase todos os filósofos canónicos, discussões breves de alguns filósofos não canónicos (por exemplo, Hipácia, Boaventura, Marsílio de Pádua), e numerosas discussões extremamente úteis da interacção entre a filosofia ocidental e muitas figuras não filosóficas e instituições. Os estudantes de filosofia de todos os níveis de ensino irão beneficiar com esta obra, e os seus professores irão admirar e desfrutar de muitos dos seus aspectos.

O tratamento que o autor oferece da filosofia pré-socrática é soberbamente conciso, lúcido e profundo. Kenny apresenta uma interpretação acessível e excelente de muitos fragmentos, e consegue integrar a sua interpretação num contexto cultural e histórico mais vasto. A discussão de Heraclito e Parménides é especialmente perspicaz, conseguindo mostrar cabalmente que ambos os filósofos tiveram efeitos duradoiros e importantes na filosofia e cultura ocidentais. O tratamento que Kenny oferece deste período é muito melhor do que o que habitualmente se encontra em histórias da filosofia de um só volume.

Concisão e lucidez distinguem também a discussão de Sócrates e Platão apresentada por Kenny. Contudo, ocasionalmente, o autor avança interpretações razoavelmente implausíveis, como quando afirma (p. 68) que Platão não pretendia que a República articulasse uma perspectiva de um Estado ideal. No seu todo, a teoria política de Platão só ocupa cinco parágrafos sumários que contêm pouca análise ou pormenor. Outros tópicos recebem um tratamento muito mais impressionante; por exemplo, Kenny apresenta uma excelente discussão de duas páginas dos princípios que subjazem à derivação que Platão apresenta da concepção tripartida da alma.

A apresentação da história da teoria das Ideias e da importância desta teoria para a filosofia de Platão é também excelente. Kenny fornece uma apresentação extremamente meticulosa das duas metodologias filosóficas principais de Platão, o elenchos e a dialéctica. Estas análises, que constituem algum do melhor trabalho de Kenny neste volume, partilham três poderosas virtudes. Em primeiro lugar, estão redigidas de forma clara e concisa. Em segundo, são filosoficamente profundas. Em terceiro, introduzem interessantes perspectivas culturais, históricas e linguísticas mais vastas.

Surpreendentemente, a apresentação da alegoria da caverna não faz parte do melhor trabalho de Kenny. O autor dedica a este tópico apenas um tépido parágrafo que não consegue representar a imensa variedade de reacções filosóficas que a alegoria suscitou. Por detrás deste lapso evidente está a interessante centragem interpretativa do autor na justiça como saúde da alma; e a sua frugalidade no tratamento de muitos tópicos canónicos deixa-lhe espaço para uma cobertura alargada e extremamente sofisticada deste tema. A adopção desta centragem exigiu algumas decisões editoriais severas, mas, felizmente, as decisões de Kenny são largamente compensadoras.

O autor oferece aos seus leitores um serviço notável ao relacionar os interlocutores dos diálogos platónicos com figuras e movimentos específicos da filosofia pré-socrática. Por exemplo, Kenny apresenta conexões esclarecedoras entre as figuras históricas de Teeteto, Protágoras e Heraclito. Isto permite-lhe valorizar a sua excelente discussão dos pré-socráticos e desenvolver uma interessante historiografia filosófica. Kenny apresenta o projecto da vida de Platão como a tentativa de construir um meio-termo entre Heraclito (tudo é fluxo) e Parménides (tudo é o Uno e é imutável). As suas interpretações do Teeteto e do Sofista tornam esta interpretação extremamente plausível.

A apresentação do sistema filosófico de Aristóteles está organizado em torno de uma exposição de um método científico (lógica, como um organon) e de três tipos de ciências: as produtivas, as práticas e as teóricas. Kenny fornece uma discussão extraordinariamente clara da lógica aristotélica, o que ele combina com uma lúcida apresentação de algumas das suas limitações. A sua discussão da Retórica e da Poética de Aristóteles são igualmente subtis e interessantes, apresentando ainda um sumário pormenorizado e no entanto não técnico da ética de Aristóteles. A sua análise de várias interpretações erradas muito comuns da doutrina do meio termo é especialmente útil.

Kenny apresenta detidamente vários outros tópicos aristotélicos, incluindo a política, as ciências físicas e biológicas e a metafísica, sobressaindo a sua discussão das explicações aristotélicas do movimento. Kenny explica as perspectivas de Aristóteles com uma clareza admirável ao mesmo tempo que traça, de um modo sofisticado, as suas relações com a filosofia platónica e parmenídea. Ao longo deste capítulo, o autor usa muitos exemplos excelentes para explicar obscuras afirmações aristotélicas. A sua explicação terra-a-terra da tese aristotélica da identidade entre as faculdades dos sentidos e os seus objectos é particularmente bem sucedida.

Ao longo da sua discussão de Aristóteles, Kenny continua a desenvolver uma historiografia sofisticada. Este capítulo contém numerosas comparações interessantes entre o pensamento de Aristóteles e o de Platão, Sócrates e vários pré-socráticos. Também aqui Kenny deita proveitosamente a mão a vários acontecimentos e tendências culturais e históricos mais vastos. Este trabalho compensa, pois consegue-se uma perspectiva muito mais interessantemente subtil do que o normal em histórias introdutórias da filosofia. Também neste capítulo é visível que a estratégia editorial do autor exigiu decisões dilacerantes. Por exemplo, apesar de mencionar várias vezes a rejeição aristotélica das Formas platónicas, Kenny dedica pouco espaço à explicação da razão pela qual Aristóteles rejeitou o platonismo. E também não fornece qualquer discussão sistemática das quatro causas, apesar de discutir cada uma delas individualmente na sua análise da ciência e metafísica aristotélicas.

O capítulo sobre Aristóteles contém uma deficiência que reaparece regularmente ao longo do livro. A ênfase de Kenny em questões linguísticas e gramaticais torna por vezes a sua apresentação obscura, como quando, por exemplo, apresenta uma confusa discussão dos vários usos aristotélicos de «ser» e «é». Nestas e noutras análises que se apoiam fortemente na análise da prática linguística, entrevê-se a perspectiva da filosofia analítica do século XX. Apesar de o autor apresentar muitas vezes aspectos interessantes, esta perspectiva idiossincrática não é bem-vinda num texto de história da filosofia.

Kenny dedica seis capítulos  mais de um quarto do texto  às filosofias helénicas, medievais e do renascimento. Isto constitui uma agradável mudança relativamente a muitos textos que põem estes períodos de parte, baseados na ideia de que só são marginalmente importantes para a história da filosofia ocidental. Infelizmente, apesar de algumas excepções notáveis, como o capítulo sobre os filósofos de Oxford do século XIV, o trabalho de Kenny não é nem tão exaustivo nem tão interessantemente pouco convencional como o seu tratamento da filosofia grega antiga. O problema principal é que, por traçar relativamente poucas conexões históricas e culturais, a sua análise carece da consideração sofisticada do contexto mais lato que noutros locais do livro é tão eficaz. No capítulo sobre a filosofia helenística, por exemplo, Kenny fornece uma apresentação perfeitamente adequada e acessível dos epicuristas. Apesar de pouco adiantar sobre a ética ou física estóicas, apresenta muito bem a lógica e a teoria dos signos dos estóicos. Contudo, nenhuma das apresentações atinge a profundidade abrangente do tratamento dado à filosofia pré-socrática. A sua discussão do cepticismo pirrónico destaca-se pela sua apresentação subtil da reacção céptica ao estoicismo mas, infelizmente, a apresentação de Kenny é demasiado breve para atingir a profundidade das suas melhores análises.

Apesar de as mesmas limitações se encontrarem num grau maior ou menor ao longo de todo o tratamento da filosofia medieval e do renascimento, quero sublinhar que em todos os seis capítulos se encontram análises tão fortes ou mais fortes do que as que se encontram noutras histórias de um só volume. O estilo de Kenny é admiravelmente conciso, cativante e penetrante. A sua discussão da filosofia cristã primitiva é particularmente eficiente, pois contém discussões claras e interessantes de várias subtilezas teológicas extremamente importantes. Não conheço qualquer outra história introdutória da filosofia que retire tanta perspicácia filosófica de uma tão cuidadosa discussão da teologia cristã primitiva. Outras discussões notavelmente bem sucedidas incluem a vívida defesa apresentada pelo autor do lugar de Tomás de Aquino na história da filosofia ocidental, o seu magistral tratamento em seis páginas de Duns Escoto, e a sua divertida narrativa (com Dante no papel de um camafeu) da filosófica «guerra de opúsculos» que acompanhou um conflito feroz entre o Rei Filipe o Belo de França e o Papa Bonifácio VIII no virar do século XIV.

A discussão de Maquiavel é o único caso em que a apresentação de Kenny perde a sofisticação cultivada pelo autor e se torna caricatural. Kenny apresenta uma caricatura cruel de Maquiavel em que este advoga uma tirania cínica cujo único propósito é manter o tirano no poder. Não se discute uma das principais motivações de Maquiavel, nomeadamente a articulação de uma estratégia política que ele pensava que teria uma alta probabilidade de impedir as misérias da guerra civil e da invasão estrangeira. O mérito filosófico da perspectiva de Maquiavel é, claro, muito duvidoso mas, ao omitir este tópico, a discussão de Kenny torna-se notavelmente desequilibrada. Felizmente, este lapso de discernimento é um exemplo completamente isolado.

Kenny começa a sua discussão da filosofia moderna primitiva com uma esplêndida discussão da teoria da guerra justa de Grócio no contexto da reforma religiosa na Europa. A isto segue-se uma subtil discussão de Descartes que se centra no dualismo cartesiano. Kenny inclui uma discussão extremamente interessante da centralidade da distinção entre mente e matéria para o sistema filosófico de Descartes. Fornece também tratamentos robustos da dúvida metódica da primeira Meditação e da célebre afirmação de Descartes  talvez a frase mais famosa da filosofia ocidental  «Penso, logo existo» que, na interpretação um pouco paradoxal de Kenny, tem o estatuto de uma «inferência imediata». A sua síntese das várias reacções dos críticos ao Cogito é excelente, tal como as suas discussões da defesa metafísica da «liberdade de espontaneidade» empreendida por Descartes (p. 254), da doutrina cartesiana de que os animais são autómatos inanimados, assim como do seu argumento ontológico a favor da existência de Deus. Kenny fornece também uma defesa fogosa da epistemologia cartesiana, contra o famoso «círculo cartesiano» alegadamente gerado pelo apelo de Descartes à bondade de Deus.

O capítulo de Kenny sobre a filosofia inglesa do século XVII, que se centra na política e metafísica de Hobbes e Locke, traça muitas conexões úteis com a turbulenta política da Inglaterra, do continente Europeu e do Novo Mundo. Kenny faz também várias comparações entre os filósofos referidos e vários outros filósofos, seus predecessores e contemporâneos. Felizmente, a sua discussão das teorias políticas de Hobbes e Locke é muito mais equilibrada e incisiva do que o seu tratamento de Maquiavel. Destaca-se a discussão da defesa da propriedade privada apresentada por Locke, assim como o seu maravilhosamente conciso tratamento de Newton.

O capítulo sobre a filosofia do continente europeu do século XVII centra-se na questão de saber como Pascal, Espinosa e Malebranche empreenderam, separadamente, vários ataques ao dualismo cartesiano. A sua profunda análise torna acessíveis vários aspectos extremamente subtis; e estas passagens, que incluem um delicioso tratamento do conflito eclesiástico entre jansenistas e jesuítas, contém alguma da melhor prosa deste volume. A discussão de Leibniz é menos concisa e não tão abrangente; contudo, Kenny inclui um tratamento extraordinário de como Leibniz entende o livre-arbítrio.

O breve capítulo sobre a filosofia britânica do século XVIII trata Berkeley, Hume e Reid numas escassas 16 páginas. Este capítulo, como o seu igualmente breve sucessor, que abrange Rousseau e os philosophes do Iluminismo, apresenta unicamente a informação mais básica. O autor decidiu concentrar os seus esforços na filosofia crítica de Kant, talvez o feito mais significativo do período moderno primitivo.

Kenny defende apaixonadamente que a composição da Crítica da Razão Pura de Kant, publicada em duas edições em 1781 e 1787, foi uma das glórias de «uma das mais espectaculares décadas na história da cultura humana» (p. 326), uma década que incluiu a composição das Bodas de Fígaro, o esboço da constituição dos Estados Unidos e a Revolução Francesa. Além de elaborar estimulantes explicações da chamada «revolução copernicana» de Kant na filosofia e da concepção kantiana do sintético a priori, Kenny discute todas as secções principais da Crítica da Razão Pura. Apesar de o seu tratamento da estética transcendental ser condescendente, a sua lúcida e subtil discussão da famosa dedução transcendental das categorias é maravilhosa. Kenny discute a maior parte das outras partes do sistema crítico de Kant, incluindo a ética kantiana e a (muitas vezes negligenciada) dialéctica transcendental; mas não abrange a difícil Crítica da Faculdade do Juízo. As 23 páginas que Kenny dedica a Kant constituem uma das mais úteis introduções existentes.

Os capítulos seguintes abrangem Fichte, Hegel e Marx; Bentham e Mill; Schopenhauer, Kierkegaard e Nietzsche; Darwin, o cardeal Newman e Freud. O texto principal conclui com dois capítulos sobre Frege, Russell e Wittgenstein. O trabalho de Kenny é aqui tão lúcido, incisivo e ocasionalmente idiossincrático como ao longo do texto. A discussão do desenvolvimento filosófico de Wittgenstein é gracioso e profundamente informativo.

O mesmo se pode dizer da História Concisa da Filosofia Ocidental, sem dúvida uma das melhores entre as melhores do género.

Andrew N. Carpenter
Disputatio 7, Novembro 1999.

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