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Tomei a triste pena já de desesperado de vos lembrar as muitas que padeço, com ver que me condena a ficar eu culpado o mal que me tratais e o que mereço. Confesso que conheço que, em parte, a causa dei ao mal em que me vejo, pois sempre meu desejo a tão largas promessas entreguei; mas não tive suspeita que seguísseis tenção tão imperfeita.
Se em vosso esquecimento tão envolto estou como os sinais demonstram que mostrais; vivo neste tormento, lembranças mais não dou que a que de razão tomar queirais: olhai que me tratais assi de dia em dia com vossas esquivanças; e as vossas esperanças, de que, vãmente, eu me enriquecia, renovam a memória; pois com tê-la de vós, só tenho glória.
E se isto conhecêsseis ser verdade pura como ouro de Arábia reluzente, inda que não quisésseis, a condição tão dura mudáreis noutra muito diferente. E eu, como inocente, que estou neste caso, isto em mãos pusera de quem sentença dera que ficasse o direito justo e raso, se não arreceara que a vós por mim, e a mim por vós matara.
Em vós escrita vi vossa grande dureza, e na alma escrita está que de vós vive; não que acabasse ali sua grande firmeza o triste desengano que então tive; porque antes que a dor prive de todo meus sentidos, ao grande tormento acode o entendimento com dous fortes soldados, guarnecidos de rica pedraria, que ficam sendo minha luz e guia.
Destes acompanhado estou posto sem medo a tudo o que o fatal destino ordene; pode ser que, cansado, ou seja tarde, ou cedo, com pena de penar-me, me despense. E quando me condene (que isto é o que espero) inda a maiores dores, perdidos os temores, por mais que venha, não direi: não quero. Contudo estou tão forte que nem me mudará a mesma morte.
Canção, se já não queres ver tanta crueldade, lá vás onde verás minha verdade. |
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Fermosa e gentil Dama, quando vejo a testa de ouro e neve, o lindo aspeito, a boca graciosa, o riso honesto, o colo de cristal, o branco peito, de meu não quero mais que meu desejo, nem mais de vós que ver tão lindo gesto. Ali me manifesto por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo nas lágrimas que choro, e de mim, que vos amo, em ver que soube amar-vos, me namoro; e fico por mim só perdido, de arte que hei ciúmes de mim por vossa parte.
Se porventura vivo descontente por fraqueza d'esprito, padecendo a doce pena que entender não sei, fujo de mim e acolho-me, correndo, à vossa vista; e fico tão contente que zombo dos tormentos que passei. De quem me queixarei se vós me dais a vida deste jeito nos males que padeço, senão de meu sujeito, que não cabe com bem de tanto preço? Mas inda isso de mim cuidar não posso, de estar muito soberbo com ser vosso.
Se, por algum acerto, Amor vos erra por parte do desejo, cometendo algum nefando e torpe desatino, se ainda mais que ver, enfim, pretendo, fraquezas são do corpo, que é de terra, mas não do pensamento, que é divino. Se tão alto imagino que de vista me perco, peco nisto, desculpa-me o que vejo; que se, enfim, resisto contra tão atrevido e vão desejo, faço-me forte em vossa vista pura, e armo-me de vossa fermosura.
Das delicadas sobrancelhas pretas os arcos com que fere, Amor tomou, e fez a linda corda dos cabelos; e porque de vós tudo lhe quadrou, dos raios desses olhos fez as setas com que fere quem alça os seus, a vê-los. Olhos que são tão belos dão armas de vantagem ao Amor, com que as almas destrui; porém, se é grande a dor, co a alteza do mal a restitui; e as armas com que mata são de sorte que ainda lhe ficais devendo a morte.
Lágrimas e suspiros, pensamentos, quem deles se queixar, fermosa Dama, mimoso está do mal que por vós sente. Que maior bem deseja quem vos ama que estar desabafando seus tormentos, chorando, imaginando docemente? Quem vive descontente, não há-de dar alívio a seu desgosto, porque se lhe agradeça, mas com alegre rosto sofra seus males, para que os mereça; que quem do mal se queixa, que padece, fá-lo porque esta glória não conhece.
De modo que, se cai o pensamento em alguma fraqueza, de contente, é porque este segredo não conheço; assi que com razões, não tão sòmente desculpo ao Amor do meu tormento, mas ainda a culpa sua lhe agradeço. Por esta fé mereço a graça, que esses olhos acompanha, o bem do doce riso; mas porém não se ganha cum paraíso outro paraíso. E assi, de enleada, a esperança se satisfaz co bem que não alcança.
Se com razões escuso meu remédio, sabe, Canção, que porque não vejo, engano com palavras o desejo |
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A instabilidade da Fortuna, os enganos suaves de Amor cego, (suaves, se duraram longamente), direi, por dar à vida algum sossego; que, pois a grave pena me importuna, importune meu canto a toda a gente. E se o passado bem co mal presente me endurece a voz no peito frio, o grande desvario dará de minha pena sinal certo, que um erro em tantos erros é concerto. E, pois nesta verdade me confio (se verdade se achar no mal que digo), saiba o mundo de Amor o desconcerto, que já co a Razão se fez amigo, só por não deixar culpa sem castigo.
Já Amor fez leis, sem ter comigo alguma; já se tornou, de cego, arrazoado, só por usar comigo sem-razões. E, se em alguma cousa o tenho errado, com siso, grande dor não vi nenhuma, nem ele deu sem erros afeições, Mas, por usar de suas isenções, buscou fingidas causas por matar-me; que, para derrubar-me no abismo infernal de meu tormento, não foi soberbo nunca o pensamento, nem pretende mais alto alevantar-me daquilo que ele quis; e se ele ordena que eu pague seu ousado atrevimento, saiba que o mesmo Amor que me condena me fez cair na culpa e mais na pena.
Os olhos que eu adoro, aquele dia que desceram ao baixo pensamento, n'alma os aposentei suavemente; pretendendo mais, como avarento, o coração lhe dei por iguaria, que a ameu mandado tinha obediente. Porém como ante si lhe foi presente que entenderam o fim de meu desejo, ou por outro despejo, que a língua descobriu por desvario, de sede morto estou posto num rio, onde de meu serviço o fruto vejo; mas logo se alça se a colhê-lo venho, e foge-me a água, se beber porfio; assi que em fome e sede me mantenho; não tem Tântalo a pena que eu sustenho.
Depois que aquela em quem minh'alma vive quis alcançar o baixo atrevimento, debaixo deste engano a alcancei: a nuvem do contino pensamento ma afigurou nos braços, e assi a tive, sonhando o que acordado desejei. Porque a meu desejo me gabei de alcançar um bem de tanto preço, além do que padeço, atado em uma roda estou penando, que em mil mudanças me anda rodeando, onde, se a algum bem subo, logo deço, e assi ganho e perco a confiança; e assi me tem atado uma vingança, como Ixião, tão firme na mudança.
Quando a vista suave e inhumana meu humano desejo, de atrevido, cometeu, sem saber o que fazia (que de sua beleza foi nacido o cego Moço, que, co a seta insana, o pecado vingou desta ousadia), e afora este mal que eu merecia, me deu outra maneira de tormento: que nunca o pensamento, que sempre voa duma a outra parte, destas entranhas tristes bem se farte, imaginando sobre o famulento, quanto mais come, mais está crescendo, porque de atormentar-me não se aparte; assi que para a pena estou vivendo, sou outro novo Tício, e não me entendo.
De vontades alheias, que roubava, e que enganosamente recolhia em meu fingido peito, me mantinha. De maneira o engano lhe fingia, que depois que a meu mando as sojugava, com amor as matava, que eu não tinha. Porém, logo o castigo que convinha o vingativo Amor me fez sentir, fazendo-me subir ao monte da aspereza que em vós vejo, co pesado penedo do desejo, que do cume do bem me vai cair; torno a subi-lo ao desejado assento, torna a cair-me; embalde, enfim, pelejo. Não te espantes, Sisifo, deste alento, que às costas o subi do sofrimento.
Desta arte o sumo bem se me oferece ao faminto desejo, porque sinta a perda de perdê-lo mais penosa. Como o avaro a quem o sonho pinta achar tesouro grande, onde enriquece e farta sua sede cobiçosa, e acordando com fúria pressurosa vai cavar o lugar onde sonhava, mas tudo o que buscava lhe converte em carvão a desventura; ali sua cobiça mais se apura, por lhe faltar aquilo que esperava: desta arte Amor me faz perder o siso. Porque aqueles que estão na noite escura, nunca sentirão tanto o triste abiso, se ignorarem o bem do Paraíso. Canção, nô mais, que já não sei que digo; mas porque a dor me seja menos forte, diga o pregão a causa desta morte. |
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Já a roxa manhã clara do Oriente as portas vem abrindo, dos montes descobrindo a negra escuridão da luz avara. O Sol, que nunca pára, de sua alegre vista saudoso, trás ela, pressuroso, nos cavalos cansados do trabalho, que respiram nas ervas fresco orvalho, se estende, claro, alegre e luminoso. Os pássaros, voando, de raminho em raminho vão saltando, com uma suave e doce melodia o claro dia estão manifestando.
A manhã bela e amena, seu rosto descobrindo, a espessura se cobre de verdura, branda, suave, angélica, serena. Ó deleitosa pena! Ó efeito de Amor tão preeminente! Que permite e consente que onde quer que me ache, e onde esteja, o seráfico gesto sempre veja, por quem de viver triste sou contente! Mas tu, Aurora pura, de tanto bem dá graças à ventura, pois as foi pôr em ti tão diferentes, que representes tanta fermosura.
A luz suave e leda a meus olhos me mostra por quem mouro e os cabelos de ouro não igual aos que vi, mas arremeda: esta é a luz que arreda a negra escuridão do sentimento ao doce pensamento; o orvalho das flores delicadas são nos meus olhos lágrimas cansadas, que eu choro co prazer de meu tormento; os pássaros que cantam os meus espritos são, que a voz levantam, manifestando o gesto peregrino com tão divino som que o mundo espantam.
Assi como acontece a quem a cara vida está perdendo, que, enquanto vai morrendo, algua visão santa lhe aparece; a mim, em quem falece a vida, que sois vós, minha Senhora, a esta alma que em vós mora (enquanto da prisão se está apartando) vos estais juntamente apresentando em forma da fermosa e roxa Aurora. Ó ditosa partida! Ó glória soberana, alta e subida! Se mo não impedir o meu desejo; porque o que vejo, enfim, me torna a vida.
Porém a Natureza, que nesta vista pura se mantinha, me falta tão asinha, quão asinha o sol falta à redondeza. Se houverdes que é fraqueza morrer em tão penoso e triste estado, Amor será culpado, ou vós, onde ele vive tão isento, que causastes tão longo apartamento, porque perdesse a vida co cuidado. Que se viver não posso, um homem sou só de carne e osso; esta vida que perco, Amor ma deu; que não sou meu: se mouro, o dano é vosso.
Canção de cisne, feita n'hora extrema: na dura pedra fria da memória te deixo, em companhia do letreiro de minha sepultura; que a sombra escura já me impede o dia. |
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Vão as serenas águas do Mondego descendo mansamente, que até o mar não param; por onde minhas mágoas pouco a pouco crescendo, para nunca acabar se começaram. Ali se ajuntaram neste lugar ameno, aonde agora mouro, testa de neve e ouro, riso brando, suave, olhar sereno, um gesto delicado, que sempre na alma me estará pintado.
Nesta florida terra, leda, fresca e serena, ledo e contento para mim vivia; em paz com a minha guerra, contente com a pena que de tão belos olhos procedia. Um dia noutro dia o esperar me enganava; longo tempo passei, co a vida folguei, só porque em bem tamanho me empregava. Mas que me presta já, que tão fermosos olhos não os há?
Ó quem me ali dissera que de amor tão profundo o fim pudesse ver inda alguma hora! Ó quem cuidar pudera que houvesse aí no mundo apartar-me eu de vós, minha Senhora! Para que desde agora perdesse a esperança, e o vão pensamento, desfeito em um momento, sem me poder ficar mais que a lembrança, que sempre estará firme até o derradeiro despedir-me.
Mas a mor alegria que daqui levar posso, com a qual defender-me triste espero, é que nunca sentia no tempo que fui vosso quererdes-me vós quanto vos eu quero; porque o tormento fero de vosso apartamento não vos dará tal pena como a que me condena: que mais sentirei vosso sentimento, que o que minha alma sente. Moura eu, Senhora, e vós ficai contente!
Canção, tu estarás aqui acompanhando estes campos e estas claras águas, e por mim ficarás chorando e suspirando, e ao mundo mostrando tantas mágoas, que de tão larga história minhas lágrimas fiquem por memória. |
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Vinde cá, meu tão certo secretário dos queixumes que sempre ando fazendo, papel, com que pena desafogo! As sem-razões digamos que, vivendo, me faz o inexorável e contrário Destino, surdo e lágrimas e a rogo. Deitemos água pouca em muito fogo; acenda-se com gritos um tormento que a todas as memórias seja estranho. Digamos mal tamanho a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento, a quem já muitas vezes o contei, tanto debalde como o conto agora; mas, já que para errores fui nascido, vir este a ser um deles não duvido. Que, pois já de acertar estou tão fora, não me culpem também, se nisto errei. Sequer este refúgio só terei: falar e errar sem culpa, livremente. Triste quem de tão pouco está contente!
Já me desenganei que de queixar-me não se alcança remédio; mas quem pena, forçado lhe é gritar, se a dor é grande. Gritarei; mas é debil e pequena a voz para poder desabafar-me, porque nem com gritar a dor se abrande. Quem me dará sequer que fora mande lágrimas e suspiros infinitos iguais ao mal que dentro na alma mora? Mas quem pode alguma hora medir o mal com lágrimas ou gritos? Enfim, direi aquilo que me ensinam a ira, a mágoa, e delas a lembrança, que é outra dor por si, mais dura e firme. Chegai, desesperados, para ouvir-me, e fujam os que vivem de esperança ou aqueles que nela se imaginam, porque Amor e Fortuna determinam de lhe darem poder para entenderem, à medida dos males que tiverem.
Quando vim da materna sepultura de novo ao mundo, logo me fizeram Estrelas infelices obrigado; com ter livre alvedrio, mo não deram, que eu conheci mil vezes na ventura o milhor, e pior segui, forçado. E, para que o tormento conformado me dessem com a idade, quando abrisse inda minino, os olhos, brandamente, mandam que, diligente, um Minino sem olhos me ferisse. As lágrimas da infância já manavam com uma saudade namorada; o som dos gritos, que no berço dava, já como de suspiros me soava. Co a idade e Fado estava concertado; porque quando, por caso, me embalavam, se versos de Amor tristes me cantavam, logo me adormecia a natureza, que tão conforme estava co a tristeza.
Foi minha ama uma fera, que o destino não quis que a mulher fosse a que tivesse tal nome para mim; nem a haveria Assi criado fui, porque bebesse o veneno amoroso, de minino, que na maior idade beberia, e, por costume, não me mataria. Logo então vi a imagem e semelhança daquela humana fera tão fermosa, suave e venenosa, que me criou aos peitos da esperança; de quem eu vi despois o original, que de todos os grandes desatinos faz a culpa soberba e soberana. Parece-me que tinha forma humana, mas cintilava espíritos divinos. Um meneio e presença tinha tal que se vangloriava todo o mal na vista dela; a sombra, co a viveza, excedia o poder da Natureza.
Que género tão novo de tormento teve Amor, que não fosse, não sòmente provado em mim, mas todo executado? Implacáveis durezas, que o fervente desejo, que dá força ao pensamento, tinham de seu propósito abalado, e de se ver, corrido e injuriado; aqui, sombras fantásticas, trazidas de algumas temerárias esperanças; as bem-aventuranças nelas também pintadas e fingidas; mas a dor do desprezo recebido, que a fantasia me desatinava, estes enganos punha em desconcerto; aqui, o adevinhar e o ter por certo que era verdade quanto adevinhava, e logo o desdizer-me, de corrido; dar às cousas que via outro sentido, e para tudo, enfim, buscar razões; mas eram muitas mais as sem-razões.
Não sei como sabia estar roubando cos raios as entranhas, que fugiam por ela, pelos olhos sutilmente! Pouco a pouco invencíveis me saíam, bem como do véu húmido exalando está o sutil humor o Sol ardente. Enfim, o gesto puro e transparente, para quem fica baixo e sem valia deste nome de belo e de fermoso; o doce e piadoso mover de olhos, que as almas suspendia foram as ervas mágicas, que o Céu me fez beber; as quais, por longos anos, noutro ser me tiveram transformado, e tão contente de me ver trocado que as mágoas enganava cos enganos; e diante dos olhos punha o véu que me encobrisse o mal, que assi creceu, como quem com afagos se criava daquele para quem crecido estava.
Pois quem pode pintar a vida ausente, com um descontentar-me quanto via, e aquele estar tão longe donde estava; o falar, sem saber o que dezia; andar, sem ver por onde, e juntamente suspirar sem saber que suspirava? Pois quando aquele mal me atormentava e aquela dor que das Tartáreas águas saíu ao mundo, e mais que todas doi, que tantas vezes soi duras iras tornar em brandas mágoas; agora, co furor da mágoa irado, querer e não querer deixar de amar, e mudar noutra parte por vingança o desejo privado de esperança, que tão mal se podia já mudar; agora, a saudade do passado tormento, puro, doce e magoado, fazia converter estes furores em magoadas lágrimas de amores.
Que desculpas comigo que buscava quando o suave Amor me não sofria culpa na cousa amada, e tão amada! Enfim, eram remédios que fingia o medo do tormento que ensinava a vida a sustentar-se, de enganada. Nisto uma parte dela foi passada, na qual se tive algum contentamento breve, imperfeito, tímido, indecente, não foi senão semente de longo e amaríssimo tormento. Este curso contino de tristeza, estes passos tão vãmente espalhados, me foram apagando o ardente gosto, que tão de siso na alma tinha posto, daqueles pensamentos namorados em que eu criei a tenra natureza, que do longo costume da aspereza, contra quem força humana não resiste, se converteu no gosto de ser triste.
Desta arte a vida noutra fui trocando; eu não, mas o destino fero, irado, que eu ainda assi por outra não trocara. Fez-me deixar o pátrio ninho amado, passando o longo mar, que ameaçando tantas vezes me esteve a vida cara. Agora, experimentando a fúria rara de Marte, que cos olhos quis que logo visse e tocasse o acerbo fruto seu (e neste escudo meu a pintura verão do infesto fogo); agora, peregrino vago e errante, vendo nações, linguages e costumes, Céus vários, qualidades diferentes, só por seguir com passos diligentes a ti, Fortuna injusta, que consumes as idades, levando-lhe diante uma esperança em vista de diamante, mas quando das mãos cai se conhece que é frágil vidro aquilo que aparece.
A piadade humana me faltava, a gente amiga já contrária via, no primeiro perigo; e no segundo, terra em que pôr os pés me falecia, ar para respirar se me negava, e faltavam-me, enfim, o tempo e o mundo. Que segredo tão árduo e tão profundo: nascer para viver, e para a vida faltar-me quanto o mundo tem para ela! E não poder perdê-la, estando tantas vezes já perdida! Enfim, não houve transe de fortuna, nem perigos, nem casos duvidosos, injustiças daqueles, que o confuso regimento do mundo, antigo abuso, faz sobre os outros homens poderosos, que eu não passasse , atado à grã coluna do sofrimento meu, que a importuna perseguição de males em pedaços mil vezes fez, à força de seus braços.
Não conto tantos males como aquele que, depois da tormenta procelosa, os casos dela conta em porto ledo; que ainda agora a Fortuna flutuosa a tamanhas misérias me compele, que de dar um só passo tenho medo. Já de mal que me venha não me arredo, nem bem que me faleça já pretendo, que para mim não vae astúcia humana; de força soberana, da Providência, enfim, divina pendo. Isto que cuido e vejo, às vezes tomo para consolação de tantos danos. Mas a fraqueza humana, quando lança os olhos no que corre, e não alcança senão a memória dos passados anos, as águas que então bebo, e o pão que como, lágrimas tristes são, que eu nunca domo senão com fabricar na fantasia fantásticas pinturas de alegria.
Que se possível fosse, que tornasse o tempo para trás, como a memória, pelos vestígios da primeira idade, e de novo tecendo a antiga história de meus doces errores, me levasse pelas flores que vi da mocidade; e a lembrança da longa saudade então fosse maior contentamento, vendo a conversação leda e suave, onde uma e outra chave esteve de meu novo pensamento, os campos, as passadas, os sinais, a fermosura, os olhos, a brandura, a graça, a mansidão, a cortesia, a sincera amizade, que desvia toda a baixa tenção, terrena, impura, como a qual outra alguma não vi mais... Ah! vãs memórias, onde me levais o fraco coração, que ainda não posso domar este tão vão desejo vosso?
Nô mais, Canção, nô mais; que irei falando, sem o sentir, mil anos.E se acaso te culparem de larga e de pesada, não pode ser (lhe dize) limitada a água do mar em tão pequeno vaso. Nem eu delicadezas vou cantando co gosto do louvor, mas explicando puras verdades já por mim passadas. Oxalá foram fábulas sonhadas! |
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Junto de um seco, fero e estéril monte, inútil e despido, calvo, informe, da natureza em tudo aborrecido; onde nem ave voa, ou fera dorme, nem rio claro corre, ou ferve fonte, nem verde ramo faz doce ruído; cujo nome, do vulgo introduzido, é felix, por antífrase, infelice; o qual a Natureza situou junto à parte onde um braço de mar alto reparte Abássia, da arábica aspereza, onde fundada já foi Berenice, ficando à parte donde o sol que nele ferve se lhe esconde;
nele aparece o Cabo com que a costa Africana, que vem do Austro correndo, limite faz, Arómata chamado. Arómata outro tempo, que, volvendo os céus, a ruda língua mal composta, dos próprios outro nome lhe tem dado. Aqui, no mar, que quer apressurado entrar pela garganta deste braço, me trouxe um tempo e teve minha fera ventura. Aqui, nesta remota, áspera e dura parte do mundo, quis que a vida breve também de si deixasse um breve espaço, porque ficasse a vida pelo mundo em pedaços repartida.
Aqui me achei gastando uns tristes dias, tristes, forçados, maus e solitários, trabalhosos, de dor e de ira cheios, não tendo tão sòmente por contrários a vida, o sol ardente e águas frias, os ares grossos, férvidos e feios, mas os meus pensamentos , que são meios para enganar a própria natureza. Também vi contra mi, trazendo-me à memória alguma já passada e breve glória, que eu já no mundo vi, quando vivi, por me dobrar dos males a aspereza, por me mostrar que havia no mundo muitas horas de alegria.
Aqui estive eu co estes pensamentos gastando o tempo e a vida; os quais tão alto me subiam nas asas, que caía ( e vede se seria leve o salto!) de sonhados e vãos contentamentos em desesperação de ver um dia. Aqui o imaginar se convertia num súbito chorar, e nuns suspiros que rompiam os ares. Aqui, a alma cativa, chagada toda, estava em carne viva, de dores rodeada e de pesares, desamparada e descoberta aos tiros da soberba Fortuna; soberba, inexorável e importuna.
Não tinha parte donde se deitasse, nem esperança alguma onde a cabeça um pouco reclinasse, por descanso. Tudo dor lhe era e causa que padeça, mas que pereça não, porque passasse o que quis o Destino nunca manso. Oh! que este irado mar, gritando, amanso! Estes ventos da voz importunados, parece que se enfreiam! Sòmente o Céu Severo, as Estrelas e o Fado sempre fero, com meu perpétuo dano se recreiam, mostrando-se potentes e indignados contra um corpo terreno, bicho da terra vil e tão pequeno.
Se de tantos trabalhos só tirasse saber inda por certo que alguma hora lembrava a uns claros olhos que já vi; e se esta triste voz, rompendo fora, as orelhas angélicas tocasse daquela em cujo riso já vivi; a qual, tornada um pouco sobre si, revolvendo na mente pressurosa os tempos já passados de meus doces errores, de meus suaves males e furores, por ela padecidos e buscados, tornada (inda que tarde) piadosa, um pouco lhe pesasse e consigo por dura se julgasse;
isto só que soubesse, me seria descanso para a vida que me fica; co isto afagaria o sofrimento. Ah! Senhora, Senhora, que tão rica estais, que cá tão longe, de alegria, me sustentais cum doce fingimento! Em vos afigurando o pensamento, foge todo o trabalho e toda a pena. Só com vossas lembranças me acho seguro e forte contra o rosto feroz da fera Morte, e logo se me ajuntam esperanças com que a fronte, tornada mais serena, Torna os tormentos graves em saudades brandas e suaves.
Aqui co elas fico, perguntando aos ventos amorosos, que respiram da parte donde estais, por vós, Senhora, às aves que ali voam, se vos viram, que fazíeis, que estáveis praticando, onde, como, com quem, que dia e que hora. Ali a vida cansada, que melhora, toma novos espritos, com que vença a Fortuna e Trabalho, só por tornar a ver-vos, só por ir a servir-nos e querer-vos. Diz-me o Tempo, que a tudo dará talho; mas o Desejo ardente, que detença nunca sofreu, sem tento me abre as chagas de novo ao sofrimento.
Assi vivo; e se alguém te perguntasse, Canção, como não mouro, podes-lhe responder que porque mouro. |
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Com força desusada aquenta o fogo eterno uma ilha lá nas partes do Oriente, de estranhos habitada, aonde o duro Inverno os campos reverdece alegremente. A Lusitana gente por armas sanguinosas, tem dela senhorio. Cercada está dum rio de marítimas águas saudosas; das ervas que aqui nascem, os gados juntamente e os olhos pascem.
Aqui minha ventura quis que uma grã parte da vida, que não tinha, se passasse, para que a sepultura nas mãos do fero Marte de sangue e de lembranças matizasse. Se Amor determinasse que, a troco desta vida, de mim qualquer memória ficasse, como história que de uns fermosos olhos fosse lida, a vida e alegria por tão doce memória trocaria.
Mas este fingimento, por minha dura sorte, com falsas esperanças me convida. Não cuide o pensamento que pode achar na morte o que não pôde achar tão longa vida. Está já tão perdida a minha confiança que, de desesperado em ver meu triste estado, também da morte perco a esperança. Mas oh! que se algum dia desesperar pudesse, viveria.
De quanto tenho visto Já agora não me espanto, que até desesperar se me defende. Outrem foi causa disto, que eu nunca pude tanto que causasse este fogo que me encende. Se cuidam que me ofende temor de esquecimento, oxalá meu perigo me fora tão amigo que algum temor deixara ao pensamento! Quem viu tamanho enleio que houvesse aí esperança sem receio?
Quem tem que perder possa só pode recear. Mas triste quem não pode já perder! Senhora, a culpa é vossa, que para me matar bastará uma hora só de vos não ver. Puseste-me em poder de falsas esperanças; e do que mais me espanto que nunca vali tanto que vivesse também com esquivanças. Valia tão pequena não pode merecer tão doce pena.
Houve-se Amor comigo tão brando e pouco irado, quanto agora em meus males se conhece; que não há mor castigo para quem tem errado que negar-lhe o castigo que merece. E bem como acontece que assi como ao doente de cura despedido, o médico sabido tudo quanto deseja lhe consente, assi me consentia esperança, desejo e ousadia.
E agora venho a dar conta do bem passado a esta triste vida e longa ausência. Quem pode imaginar que pode haver pecado que mereça tão grave penitência? Olhai, que é consciência, por tão pequeno erro, Senhora, tanta pena! Não vedes que é onzena? Mas se tão longo e mísero desterro vos dá contentamento, nunca se acabe nele meu tormento.
Rio fermoso e claro, e vós, ó arvoredos, que os justos vencedores coroais, e ao cultor avaro, contìnuamente ledos, dum tronco só diversos frutos dais; assi nunca sintais do tempo injúria alguma, que em vós achem abrigo as mágoas que aqui digo, enquanto der o Sol virtude à Lua; porque de gente em gente saibam que já não mata a vida ausente.
Canção, neste desterro viverás, Voz nua e descoberta, até que o tempo em Eco te converta. |
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Manda-me Amor que cante docemente o que ele já em minha alma tem impresso com pressuposto de desabafar-me; e porque com meu mal seja contente, diz que ser de tão lindos olhos preso, contá-lo bastaria a contentar-me. Este excelente modo de enganar-me tomara eu só de Amor por interesse, se não se arrependesse co a pena o engenho escurecendo. Porém a mais me atrevo, em virtude do gesto de que escrevo; e se é mais o que canto que o que entendo, invoco o lindo aspeito, que pode mais que Amor em meu defeito.
Sem conhecer Amor viver soía, seu arco e seus enganos desprezando, quando vivendo deles me mantinha. O Amor enganoso, que fingia mil vontades alheias enganando, me fazia zombar de quem o tinha. No touro entrava Febo, e Progne vinha; o corno de Aquelôo Flora entornava, quando o Amor soltava os fios de ouro, as tranças encrespadas, ao doce vento esquivas, dos olhos rutilando chamas vivas, e as rosas antre a neve semeadas, co riso tão galante que um peito desfizera de diamente.
Um não sei quê, suave, respirando, causava um admirado e novo espanto, que as cousas insensíveis o sentiam. E as gárrulas aves levantando vozes desordenadas em seu canto, como em meu desejo se encendiam. As fontes cristalinas não corriam, inflamadas na linda vista pura; florescia a verdura que, andando, cos divinos pés tocava; os ramos se abaixavam, tendo inveja das ervas que pisavam (ou porque tudo ante ela se abaixava). Não houve coisa, enfim, que não pasmasse dela, e eu de mim.
Porque quando vi dar entendimento às cousas que o não tinham, o temor me fez cuidar que efeito em mim faria. Conheci-me não ter conhecimento; e nisto só o tive, porque Amor mo deixou, porque visse o que podia. Tanta vingança Amor de mim queria que mudava a humana natureza: os montes e a dureza deles, em mim, por troca, traspassava. Ó gentil partido! Trocar o ser do monte sem sentido, pelo que num juízo humano estava! Olhai que doce engano: tirar comum proveito de meu dano!
Assi que, indo perdendo o sentimento a parte racional, me entristecia vê-la a um apetite sometida; mas dentro na alma o fim do pensamento por tão sublime causa me dezia que era razão ser vencida. Assi que, quando a via ser perdida, a mesma perdição a restaurava; e em mansa paz estava cada um com seu contrário num sujeito. Ó grão concerto este! Quem será que não julgue por celeste a causa donde vem tamanho efeito que faz num coração que venha o apetite a ser razão?
Aqui senti de Amor a mor fineza, como foi ver sentir o insensível, e o ver a mim de mim mesmo perder-me; enfim, senti negar-se a natureza; por onde cri que tudo era possível aos lindos olhos seus, senão querer-me. Despois que já senti desfalecer-me, em lugar do sentido que perdia, não sei que me escrevia dentro na alma co as letras da memória, o mais deste processo co claro gesto juntamente impresso que foi a causa de tão longa história. Se bem a declarei, eu não a escrevo, da alma a trasladei.
Canção, se quem te ler não crer dos olhos lindos o que dizes, pelo que em si se esconde, os sentimentos humanos, lhe responde, não podem dos divinos ser juízes, senão um pensamento que a falta supra a fé do entendimento. |
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Endereços das páginas da Internet e e-mails dos formandos «resistentes» do curso «Aquisição de competências sócio-profissionais»
Micaela Reis
Ø Página- http://micaelamelo.tripod.com/morbidangel/
Ø E-mail- micasmelo@portugalmail.pt
Daniel Reis
Ø Página- http://danielreis.tripod.com/danielreis/
Ø E-mail- nightmareinblack@hotmail.com
José Tomé
Ø Página-
Ø E-mail- botaabaixo@portugalmail.pt
Natália Andrade
Ø Página- http://nataliaandrade.tripod.com/nataliaandrade/
Ø E-mail- nataliaandrade@portugalmail.pt
José Reis
Ø Página- http://nogueirareis.tripod.com/reis/
Ø E-mail- josenogueirareis@portugalmail.com
Nuno Teixeira
Ø E-mail- rella@portugalmail.pt
Paulo Barros
Ø Página- http://paulo128.tripod.com/paulobarros/
Ø E-mail- paulomurraco@portugalmail.pt
António Morais
Ø Página- http://antoniomorais.tripod.com/antoniomorais/
Ø E-mail- pitagalo@portugalmail.com
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Davidson acerca da Correspondência, Coerência, e Cepticismo, de Manuel Sanches Dissertação de Mestrado Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lisboa, 2000, 106 pp. (36 000 palavras)
Esta dissertação propõe-se caracterizar as teses fundamentais de Davidson sobre a verdade e examinar os argumentos que utiliza para refutar o cepticismo acerca da verdade e da sua justificação. Davidson defende uma teoria que contém simultaneamente uma componente correspondentista acerca da verdade e uma componente coerentista acerca da justificação da verdade. Por um lado, é a dimensão correspondentista que permite considerar a teoria da verdade de Davidson uma teoria realista; por outro lado, é a dimensão coerentista que sustenta uma defesa do holismo e uma crítica do fundacionalismo como teoria da justificação da verdade. Esta dissertação procurara mostrar que a defesa simultânea das noções de correspondência e de coerência não representa, na filosofia de Davidson, nenhuma contradição.
A verdade é uma noção central na filosofia de Davidson, apesar de não se encontrar aí explicitamente definida. O carácter prioritário desta noção significa que ela não é conceptualmente analisável ou redutível a qualquer outra noção. A verdade surge como um pano de fundo perante o qual se situam muitas outras noções, desempenhando um papel na sua explicação. Em particular, desempenha um papel fundamental, tanto no esclarecimento da noção de interpretação, como na compreensão das nossas próprias atitudes como criaturas racionais e da nossa própria relação com o mundo.
Manuel Sanches concluiu a Licenciatura em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1974 e o Mestrado em Filosofia da Linguagem e da Consciência em Novembro de 2000. Iniciou a sua actividade profissional como professor de Filosofia do ensino secundário no ano lectivo 1974/75. Desde o ano lectivo de 1988/89 que exerce a sua actividade na Escola Secundária de Santa Maria, em Sintra.
Instituição: Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa. Classificação: Muito Bom por unanimidade. Grau conferido: Mestre em Filosofia da Linguagem e da Consciência. Orientador: João Branquinho (Universidade de Lisboa). Júri da prova: João Branquinho (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Presidente), António Marques (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Arguente) e João Paulo Monteiro (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Data da aprovação: 7 de Novembro de 2000.
Crítica | Filosofia | Leitura | Música |
José Nogueira dos Reis
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